quarta-feira, 26 de maio de 2010

Liberdade

Por um momento, senti falta
da vida que não vivemos juntos.
Minha memória vazia
de certo modo continha as minhas emoções.
Eu me perguntava se ainda existia alguma.

No bolso eu guardo um livro fajuto de auto-ajuda
que ora ou outra
espanta o que por ai, chama-se mal.

Você sabe,
a minha liberdade
me permite tomar doses diárias
de veneno.
Deixo de lado a frivolidade
das páginas boçais.

Quero abraçar a sua tristeza,
examinar de perto os despojos
dos corpos desnudos,
eu quero o ínicio e o fim.
Não me interessam as entrelinhas.

Não tenho vergonha de rir da minha própria desgraça.

Quão deplorável é o não-dito!!

Só nos resta perguntar:
O que se tem para preservar??

- Almas tristes, riam!

Porque separar conceito e substância?!
Eis que nada se evidência para além dos nomes.

sábado, 15 de maio de 2010

Todo triste é fim

A mosca me olhava.
Em seu desalento,
perdiam-se meus sentidos ali despejados.
Tantas horas que não passavam.
Faltava silêncio, som.

De que adiantam os cânticos
entonados em dias ensolarados?
Se você lesse minhas poesias,
saberia
das muitas dores,
mágoas.

Era isso o que nos restava!
A cinza de um cigarro apagado.
E eu poderia ser ainda mais trágica,
se a falta de ar
não me secasse a garganta.

A mosca me respondeu.
Demonstrou uma agonia qualquer.
Se ao menos eu pudesse
compreendê-la.

Meus olhos fitaram o vazio
como se fitassem a eternidade.
Eu quis ser mosca,
mas só pude notar
a existência do cigarro apagado.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Fulgor

Quantas despedidas fazem uma poesia?

Entre trancos, barrancos,
eis o nosso sentido,
aterrado pelas palavras.
Ah... mas não as culpe!
Não quebremos o encanto do ínicio.
O fulgor.

Eis que só agora nos sentimos,
e como foi bom estar longe.
Ouvir o silêncio bálsamo,
oculto na suavidade de vozes distantes.

Prezo cada movimento em vão
mas ousado.
Só assim se evidênciam mais que corpos,
mentes
sedentas.

Uma noite em claro é pouco.
Quero rasgar por dentro
a sua culpa.
Ver o que resta.