sábado, 27 de novembro de 2010

Porvir

Talvez por não ter dentro de mim
tudo o que tenho,
latente pulsa ainda mais rijo o eu que se reprimi.
Com receios da exposição a luz
não se percebe vazio como o podem julgar.
Por estar refugiado percebe-se.

Ensimesmado
conserva a liberdade que o silêncio a todos concede.
O silencio revela
justamente porque não sai de si.

Permaneço e calo
(Sentindo que há existência mesmo quando não se é ouvido).

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Pra ninguém

Cansei de ser inimiga da poesia
mesmo tendo perdido o esboço da minha felicidade.
Fui alma e osso exposta a
superficie rasa de outrem.
Nem que eu quisesse
poderia me arrepender.

Eis um indivíduo
trágico e leve.
Quizera eu te estender a mão,
fazer-te ver que antes da vida, existe a arte.
o melhor é ser o que se é,
saber o que se sabe.
Qualquer ódio saiba, prende-se a esse papel.
A falta de resposta foi ouvida.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Arrefecido

Merece a poesia uma chance?

O eu desolado
Em-si e para-si
Assim desnudo
chora o pranto perene
- O futuro nunca existiu !!
Ela clama
com a certeza do equilibrista
poisé, essa nossa capacidade de ver distante...

A poesia diz tanta coisa
e eu desacreditada
deixei estar o copo vazio
até transbordar
me restou a sede
daquele que nunca viveu
finjo que apago e apago
sou toda ao momento idilíco
e toda a melancolia

Foi o gosto salgado
ou foi o tempo nublado?
Existiu a palavra fatal?

Nem destino,
nem acaso.

Foram as promessas,
foi a falta de coragem,
foi a fé dele e dela.

Claro que o sol há de brilhar novamente.
Ei de salivar ao lembrar-te,
doce como és,
arrefecido pela dor
que eu nunca vi.
Desculpe-me por não ver,
mas conservo em mim seu gosto.
Certa de que mereceu a poesia essa chance.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A culpa do jovem é não ser velho

Pra que pudores? Eu pergunto.
deixem correr o sangue
pra que se revele a traição.
As injúrias são provas de amor a vida,
e só!
Ah... Maqueiem os mortos!
No meu enterro servirão álcool puro.

A minha cara é de ferro,
encaro com afabilidade o seu escárnio.
O fim é seu! O fim é seu!
A culpa é minha! A culpa é minha!
Há bandidos e há heróis.
O pagão acata o veredicto do cristão.

Será filósofo a sabedoria o seu verdadeiro mal?

quarta-feira, 30 de junho de 2010

A saudade é real

Desfaço a poesia das minhas mágoas,
carregando a culpa do covarde.
Não obstante o mal estar que sinto,
só o silêncio aparentemente ainda me é encantador.
Deveras...O filósofo precisa da aparência.
Coitado! Pensa que pode manter a obscuridade da origem e
com ela a beleza intacta.

Você é real.
Seu espectro me trouxe a nostalgia.
Ah, mas dessa vez não pudemos preservar as máscaras,
quiça as suas rugas reneguem a duplicidade do mundo.
Nem tão pouco,
quero ter que deixar-te pra só assim provar
o sabor do prato que não é cru.

A beleza permanece intocada, pois sua.
A mim resta o estafermo.
Saiba que a obscuridade das minhas poesias
perdeu lugar para a fadiga.
A beleza tem sido tão importuna,
transformou-se em tela fria.

E agora vejo o espírito tomar consciência de si mesmo,
deixar a forma pra trás,
deixar a arte talvez,
mas não a vida.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Liberdade

Por um momento, senti falta
da vida que não vivemos juntos.
Minha memória vazia
de certo modo continha as minhas emoções.
Eu me perguntava se ainda existia alguma.

No bolso eu guardo um livro fajuto de auto-ajuda
que ora ou outra
espanta o que por ai, chama-se mal.

Você sabe,
a minha liberdade
me permite tomar doses diárias
de veneno.
Deixo de lado a frivolidade
das páginas boçais.

Quero abraçar a sua tristeza,
examinar de perto os despojos
dos corpos desnudos,
eu quero o ínicio e o fim.
Não me interessam as entrelinhas.

Não tenho vergonha de rir da minha própria desgraça.

Quão deplorável é o não-dito!!

Só nos resta perguntar:
O que se tem para preservar??

- Almas tristes, riam!

Porque separar conceito e substância?!
Eis que nada se evidência para além dos nomes.

sábado, 15 de maio de 2010

Todo triste é fim

A mosca me olhava.
Em seu desalento,
perdiam-se meus sentidos ali despejados.
Tantas horas que não passavam.
Faltava silêncio, som.

De que adiantam os cânticos
entonados em dias ensolarados?
Se você lesse minhas poesias,
saberia
das muitas dores,
mágoas.

Era isso o que nos restava!
A cinza de um cigarro apagado.
E eu poderia ser ainda mais trágica,
se a falta de ar
não me secasse a garganta.

A mosca me respondeu.
Demonstrou uma agonia qualquer.
Se ao menos eu pudesse
compreendê-la.

Meus olhos fitaram o vazio
como se fitassem a eternidade.
Eu quis ser mosca,
mas só pude notar
a existência do cigarro apagado.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Fulgor

Quantas despedidas fazem uma poesia?

Entre trancos, barrancos,
eis o nosso sentido,
aterrado pelas palavras.
Ah... mas não as culpe!
Não quebremos o encanto do ínicio.
O fulgor.

Eis que só agora nos sentimos,
e como foi bom estar longe.
Ouvir o silêncio bálsamo,
oculto na suavidade de vozes distantes.

Prezo cada movimento em vão
mas ousado.
Só assim se evidênciam mais que corpos,
mentes
sedentas.

Uma noite em claro é pouco.
Quero rasgar por dentro
a sua culpa.
Ver o que resta.

domingo, 14 de março de 2010